
Para Cuidar de um Doente com Alzheimer, o cuidador deverá ter formação na área de geriatria, ter um comportamento calmo, misturado com uma boa dose de paciência e de educação, ter amor e carinho pelos idosos e sobretudo ter o saber de contornar as situações com respeito.
Não vou entrar em pormenores de ciência médica ou terapêutica, deixo esses pormenores para os especialistas. Pois todos nós já sabemos o que é a doença de ALZHEIMER, mas alguns não sabem como lidar e tratar deles.
Os doentes de ALZHEIMER são uns doentes com características especiais, dependendo de vários factores tais como: a sua vivência, comportamentos, atitudes, gostos, hábitos alimentares, rituais pessoais, rituais religiosos, formação académica, profissionais e passatempos.
Nalguns estes factores mantêm-se ao longo da doença até à sua fase terminal, outros são o oposto do que foram durante a sua "outra vida".
A família fica destroçada, sem forças para lidarem com esta situação, principalmente os filhos que se recusam aceitar, ao verem os pais a padecerem dessa triste doença. Os filhos são as primeiras pessoas a desaparecerem como filhos das suas memórias, passando a serem para alguns uns ditadores, governantas que só sabem dar ordens, ou uma simples criadita.
Para entenderem o quanto é difícil para um cuidador a tarefa de cuidar desses doentes, vou contar alguns episódios que se passaram comigo.
Quando acabei o curso na Cruz Vermelha, fui contratada para cuidar de um senhor que lhe tinha sido diagnosticada a doença de ALZHEIMER. Fiquei receosa, pois a minha prática era pouca. Tinha a noção do que era a doença. Sabia que a tarefa iria ser difícil. Mas como tinha muito amor e carinho para dar, aceitei.

O Sr. F era um homem elegante, bastante alto, muito vaidoso que em novo tinha feito passagem de moda, estava muito à vontade no jogo de sedução e de pular a cerca.
Ao primeiro contacto ele aceitou-me muito bem exprimindo-se por gestos, era de poucas falas e só o fazia quando entendia. Mas a doença tem esse sintoma, o deixar de falar.
Adorava que lhe fizesse a higiene matinal, como um homem vaidoso que era, andava sempre bem vestido, bem penteado, bem barbeado e muito cheiroso.
Mas tinha uns certos rituais: 1 lenço em cada bolso das calças, no bolso da camisa a carteira, sempre com uma nota de 10 contos (50€), um pente e um spray oral. Se por qualquer motivo a nota fosse trocada eu teria que arranjar outra para a colocar de manhã na carteira.
Quando saía do quarto ia para a cozinha. Na gaveta de um dos armários tinham que lá estar 5 maços de tabaco. Por dia ele devorava os 5 maços de tabaco, uns atrás dos outros. Se por algum motivo não estivessem lá os 5 maços de tabaco, ficava ansioso, não comia até o stock ser reposto.
Toda a gente tinha que dar o dinheiro para a sua compra menos utilizar a nota de 1o contos.
Era impossível estar todo o dia naquela cozinha, devido ao cheiro e ao fumo.
O pequeno almoço, o almoço, o lanche, o jantar eram todos iguais, o que comia em cada refeição, comeu-o durante cerca de um ano.
Até que um dia o Sr F apaixonou-se por mim. Chegou ao pé da esposa, tirou a aliança do dedo, dando-lha e dizendo não quero mais estar casado contigo, vou casar com a Maria. Enquanto estive a cuidar dele nunca mais quis pôr a aliança do casamento.
Paixão essa que me deixou muitas vezes encabulada, direi envergonhada perante a família.
Quando eu fazia movimentos de levantar ou baixar o corpo, como por exemplo ir ao frigorífico buscar algum alimentos ou estar de costas, ele aparecia por detrás e roçava-se em mim. Depois puxava as calças para baixo e mostrava a sua virilidade a mim, à filha ou aos netos.
Eu dormia lá em casa, o Sr. F dormia com a esposa no quarto de casal, nunca tentou deitar-se comigo, nem fazer-me mal.
Quando a filha lhe chamava atenção por fazer isso, ele ria-se e dizia que eu era a mulher dele e ela era a criadita, por isso não mandava nada. A certa altura a filha descompensada dizia que eu tinha culpa, pois provocava o pai levando-o a fazer esses disparates. Por vezes sugeria que eu batesse com a esfregona no pai. Algumas vezes eu tinha dúvidas se tinha dó do pai ou da filha.
A filha já estava a ficar desesperada, deprimida, à beira da loucura.
Com toda a minha paciência explicava-lhe que não podia fazer aquilo que era feio, respondia-me, que estávamos na idade de casar, de ir para a nossa casa pois a mãe e a governanta eram difíceis de aturar. Outras vezes ria-se e passado algum tempo voltava a fazer o mesmo.
A filha quase louca resolveu pôr o pai num Lar e passados alguns meses ele faleceu.
Como tivemos a oportunidade de constatar, cuidar dum doente de alzheimer e lidar com os seus familiares não é uma tarefa fácil. Os cuidadores necessitam de serem pessoas equilibradas, dóceis, sorridentes, sem maldade, de bem com a vida e sobretudo amar o próximo doente seja ele idoso ou não.
Falaremos mais à frente noutros casos, pois como cuidadora já tive vários casos de doentes de alzheimer e todos com histórias para vos contar. Se tiverem dúvidas sobre como cuidar dum doente com Alzheimer deixem o vosso comentário.